Os meninos da minha terra não brincam na rua
Têm uma imensa savana por desbravar
Os meninos da minha terra não calçam sapatos
Têm as plantas do (s) pé (s) para a terra vermelha pisar
A lama argilosa sapatear
Ao som dos trovões estonteantes
Têm as plantas do (s) pé (s) para a terra vermelha pisar
A lama argilosa sapatear
Ao som dos trovões estonteantes
Dançando sob a chuva intensa
Envoltos no cheiro a terra
Barro
Argila
Céu impregnado de beleza
Misticismo
Cor
Envoltos no cheiro a terra
Barro
Argila
Céu impregnado de beleza
Misticismo
Cor
Os meninos da minha terra não usam roupas sofisticadas
As marcas na minha terra não têm nome
Têm cor
São coloridas as capelanas
Que cobrem corpos desnudos
Dando vida a rostos, tão iguais, marcados pela dor
As marcas na minha terra não têm nome
Têm cor
São coloridas as capelanas
Que cobrem corpos desnudos
Dando vida a rostos, tão iguais, marcados pela dor
Os meninos da minha terra não recebem presentes no Natal
Constroem os seus brinquedos
Com paus
Pedras
…
Constroem os seus brinquedos
Com paus
Pedras
…
Oiço ao longe o batido frenético dos tambores …
Há festa
As caras pintam – se de branco
As vozes entoam cânticos tribais
A dança
Traz alegria
Hoje não há dor
Há festa
As caras pintam – se de branco
As vozes entoam cânticos tribais
A dança
Traz alegria
Hoje não há dor
Os meninos da minha terra não comem uvas, maçãs
Nem peras, nem arroz
Comem papaia, mandioca,
Pêra – abacate e atas
E bebem sumo de coco
Nunca provaram licor
Os meninos da minha terra habitam o paraíso
Mas conhecem a fome, a miséria
Sabem o que é a guerra, o racismo, a sida, a dor
Nem peras, nem arroz
Comem papaia, mandioca,
Pêra – abacate e atas
E bebem sumo de coco
Nunca provaram licor
Os meninos da minha terra habitam o paraíso
Mas conhecem a fome, a miséria
Sabem o que é a guerra, o racismo, a sida, a dor
Contudo, sorriem
E o sorriso dos meninos da minha terra é o mais bonito de todos
Abraça o mundo com a sua inocência
A humildade perante a vida
A alegria feita da ausência de sonho e cor
E o sorriso dos meninos da minha terra é o mais bonito de todos
Abraça o mundo com a sua inocência
A humildade perante a vida
A alegria feita da ausência de sonho e cor
(Dedicado a todas as crianças Moçambicanas)
27 de Outubro de 2008,
4 comentários:
Lindo, admirável, soberbo este teu poema, sabes que me fez recuar até 2006, qdo começei a fazer fotografia num trabalho em Cabo Verde, onde fui fazer fotografias de crianças, até na escola com a devida autorização para uma nova Associação em projecto com o nome de Mininos di Rua, fiz por cá algumas exposições mas o projecto acabou por não ir em frente por causa da imensa burocracia para se formar uma associação deste tipo de ajudas... enfim, mas foi um ano mto rico e este post me fez recuar e recordar belos momentos que tive.
Bjs amiga adorei e parabéns pela forma como escreves.
Nuno
Carla:
Só quem viveu esta realidade, pode dizer que BELO POEMA.Não há dúvida que, quem descreve tanta beleza, amargura e dor daquelas Crianças, só pode ter uma mente saudável.
São realmente os meninos da tua terra e de tantos outros, que tão sòmente já se esqueceram deles.
um beijinho
Eva
A beleza genuína está estampada no rostos destes meninos, e em todo o encanto descritivo deste teu poema.
Dos poemas que te conheço, este é o meu favorito.
Sem dúvida vindo de alguém que viveu esta realidade...
Beijinhos e óptima semana, Carla.
Este poema toca-me fundo... pelos mesmo motivos que o Nuno descreveu. A experiência que vivi em Cabo Verde e posteriormente relacionada com o Projecto Mininos di Rua vai ficar para sempre gravada no meu coração.
A ingenuidade e o encanto destas crianças é algo único, que nada tem a ver com as crianças europeias habituadas a terem tudo e, por isso mesmo, a não valorizarem nada.
Bem hajas por tão bela descrição das crianças de África (e não só...).
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